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Alexei Navalny: quem foi o opositor de Putin que morreu em prisão
Conhecido por ser o crítico mais veemente do presidente Vladimir Putin, Navalny, que tinha 47 anos, cumpria uma pena de 19 anos por condenações consideradas por boa parte da comunidade internacional como sendo por motivação política.
No final do ano passado, ele havia sido transferido para uma colônia penal no Ártico, uma das prisões mais duras da Rússia.
O serviço penitenciário do distrito de Yamalo-Nenets disse que Navalny “não se sentiu bem” depois de uma caminhada.
Ele “perdeu a consciência quase imediatamente”, disse o comunicado, acrescentando que uma equipe médica de emergência foi imediatamente chamada e tentou ressuscitá-lo, sem sucesso.
“Os médicos de emergência declararam o prisioneiro morto. A causa da morte está sendo estabelecida.”
A agência oficial de notícias Interfax noticiou que uma ambulância chegou à colônia em sete minutos e que paramédicos tentaram por meia hora ressuscitar Navalny.
“O tempo de viagem da equipe da ambulância demorou menos de sete minutos. Os médicos chegaram ao território da colônia para atender o paciente em dois minutos”, disse o Hospital Municipal de Labytnang, citado pela agência.
“Os médicos que chegaram ao local deram continuidade às medidas de reanimação que já haviam sido prestadas pelos médicos da colônia. E eles ficaram mais de meia hora. No entanto, o paciente morreu”,
Ainda não há confirmação independente desta informação.
O advogado de Navalny, Leonid Solovyov, disse à imprensa russa que não comentaria nada por enquanto. Ele está a caminho da colônia.
Quem era Alexei Navalny?
Navalny ficou conhecido internacionalmente ao expor a corrupção do governo, rotulando o partido Rússia Unida, de Putin, como “o partido dos vigaristas e ladrões”.
Ao longo de sua vida, ela cumpriu várias penas de prisão e tinha milhões de seguidores nas suas redes sociais.
Em 2011, ele foi detido e encarcerado por 15 dias após protestos contra suposta fraude eleitoral do partido Rússia Unida nas eleições parlamentares.
Navalny foi brevemente preso em julho de 2013 sob a acusação de peculato (apropriação de bens públicos), mas ele disse que a sentença era uma condenação política.
Ele tentou concorrer a presidente da Rússia em 2018, mas foi barrado por causa de condenações anteriores por fraude em um caso que ele novamente disse ter motivação política.
Navalny foi condenado a 30 dias de prisão em julho de 2019, após convocar protestos não autorizados.
Quando estava na prisão, ele adoeceu. Os médicos o diagnosticaram com “dermatite de contato”, mas ele disse que nunca teve nenhuma reação alérgica aguda e seu próprio médico sugeriu que ele pode ter sido exposto a “algum agente tóxico”.
Navalny também sofreu uma grave queimadura química no olho direito em 2017, depois de ter sido atacado com um corante antisséptico.
Em 2019, sua Fundação Anticorrupção foi oficialmente declarada um “agente estrangeiro”, permitindo que as autoridades a submetessem a maiores controles estatais.
Envenenamento na cueca
Depois, após negociações de alto nível com as autoridades russas, ele foi transportado de avião para Berlim e tratado lá enquanto era mantido em coma induzido.
O governo alemão disse que Navalny havia sido envenenado por uma sofisticada substância conhecida como Novichok, o que deu ainda mais atenção ao caso, ao reforçar suspeitas de que o Estado russo estivesse por trás do envenenamento. O Kremlin sempre negou essas acusações.
Conhecidas como agentes neurotóxicos, essas substâncias são usadas em pó ou em forma líquida. E são tão perigosas que só podem ser fabricadas em laboratórios avançados, que são em grande maioria de propriedade de governos, ou controlados por eles.
Inicialmente, acreditava-se que o envenenamento teria ocorrido por meio do chá que Navalny bebeu naquele dia.
No entanto, depois que se recuperou, ele rastreou os indivíduos que acreditava terem participado do atentado.
Passando-se por uma autoridade da área de segurança, Navalny conseguiu enganar um especialista em armas que teria admitido que o caso foi mesmo de envenenamento.
A maior parte do agente químico teria sido plantada na cueca dele. O governo russo negou novamente as acusações.
Ainda na Alemanha, Navalny relatou que sentiu calafrios inicialmente e nenhuma dor.
“Não dói nada, não é como um ataque de pânico ou algum tipo de transtorno. No começo você sabe que algo está errado, e em seguida seu único pensamento passa a ser: ‘É isso, vou morrer.'”
Em janeiro de 2021, Navalny voltou para a Rússia, pela primeira vez desde que havia sido envenenado, e foi detido logo após desembarcar em Moscou.
O motivo é que ele teria violado condições de uma sentença de liberdade de anos atrás.
Em seguida, um tribunal de Moscou sentenciou Navalny a três anos e meio de prisão por violar as condições de uma pena suspensa, ao não se apresentar regularmente para autoridade penitenciárias.
Depois de sua prisão, Navalny acusou Putin de ter usado recursos ilícitos para construir uma extravagante mansão no Mar Negro — avaliada em R$ 7,2 bilhões e 39 vezes o tamanho do principado de Mônaco.
Um vídeo produzido por Navalny sobre o suposto palacete de Putin foi visto mais de 100 milhões de vezes nas redes sociais.
Tratamento duro
Depois de Navalny ter sido condenado à prisão em fevereiro de 2021, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos decidiu que ele deveria ser libertado imediatamente porque sua vida corria risco. Mas a Rússia rejeitou a decisão.
Ele entrou em greve de fome, protestando contra o fato de as autoridades da colônia penal se recusarem a dar-lhe tratamento adequado para problemas nas pernas e nas costas.
A Anistia Internacional chegou o revogar o status de prisioneiro político de Navalny.
A organização depois voltou atrás e admitiu que tinha sido sujeita a uma “campanha orquestrada”.
Na época, surgiram vídeos em que Navalny fazia comentários xenófobos e que nunca chegaram a ser desmentidos.
Em vídeos de 2007, ele parecia comparar conflitos étnicos a cáries dentárias e comparar imigrantes a baratas.
Ele também disse que a Península da Crimeia “pertence à Rússia”, apesar da condenação internacional da anexação do território ucraniano pela Rússia em 2014.
Enquanto isso, o governo russo continuou sua campanha contra Navalny.
Em junho de 2022, os seus apoiadores descobriram que ele já não estava na prisão original onde deveria cumprir a pena.
As autoridades prisionais federais admitiram mais tarde que ele tinha sido transferido para uma colônia penal com uma reputação difícil, a prisão IK-6, a mais de 249 quilômetros a leste de Moscou, onde ele teria sido colocado repetidamente em confinamento solitário.
A última sentença de agosto de 2023 estendeu a sua pena de prisão para 19 anos e o transferiu para uma colônia penal de segurança máxima normalmente reservada aos criminosos mais perigosos da Rússia.
“Putin nem sequer menciona o nome dele, ninguém no Kremlin pode mencionar o nome dele”, disse ela, em entrevista para a BBC antes da morte de Navalny.
“Navalny é uma ameaça ao poder pessoal de Putin, à reputação pessoal de Putin. E Putin realmente não trata seus inimigos com mão leve.”
Apesar de estar preso, Navalny tornou-se uma das principais vozes internas contra a guerra na Ucrânia.
Durante uma audiência no tribunal em maio de 2022, ele acusou Putin de iniciar uma “guerra estúpida” sem “nenhum propósito ou significado”.
A sua fundação também se manifestou contra a mobilização de cerca de 300 mil civis para lutar na Ucrânia.
Reações internacionais
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, criticou a “obsessão” do governo da Rússia com Navalny.
“Em primeiro lugar, se estas notícias forem verdadeiras, prestamos as nossas condolências para a sua esposa e família. Além disso, a sua morte em uma prisão russa e a obsessão e o medo de apenas um homem realçam a fraqueza e a podridão no coração do sistema que Putin construiu”, disse Blinken.
“A Rússia é responsável por isso. Discutiremos isto com muitos outros países preocupados com o destino de Alexei Navalny, especialmente se estas notícias se revelarem verdadeiras.”
O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, também criticou o governo da Rússia.
“Ainda não há confirmação final, mas partimos do fato de que é altamente provável que Navalny tenha morrido em uma prisão russa. Isso é muito deprimente para nós”, afirmou Scholz.
“Eu o conheci em Berlim, quando estava sendo tratado na Alemanha devido às consequências do envenenamento, e falei com ele sobre a coragem que a sua decisão de regressar à Rússia exigia. Agora, ele pagou por isso com a vida.”
O chanceler alemão disse ainda: “Sabemos muito bem que tipo de regime é este. Qualquer pessoa que critique, que defenda a democracia, deve temer pela sua vida e pela sua segurança. Então, estamos chocados”.
“Nossos pensamentos estão com sua esposa, seus filhos, seus amigos, seus seguidores. Isso é simplesmente terrível. E isto é um sinal de como a Rússia mudou. Infelizmente, este processo começou há muito tempo, há muito que se afastou da democracia, há muito tempo que não é democracia.”
O premiê britânico, Rishi Sunak, disse que a notícia da morte de Navalny é “terrível”.
“Como o mais fervoroso defensor da democracia na Rússia, Alexei Navalny demonstrou uma coragem incrível ao longo da sua vida. Os meus pensamentos estão com a sua esposa e com o povo da Rússia, para quem esta é uma enorme tragédia”, disse ele.
O ministro das Relações Exteriores da França, Stephane Sejournet, disse que Navalny pagou com a vida por resistir ao sistema de opressão criado pelo presidente Vladimir Putin.
“Alexey Navalny pagou com a vida por resistir ao sistema de opressão”, escreveu Sejournet na rede social X.
“Sua morte em uma colônia penal é uma lembrança da realidade do regime de Vladimir Putin.”