Depois de Dark Souls, Sekiro e Elden Ring, o From Software puxou do travão de mão e sacou uma reviravolta de 180 graus para regressar a uma franquia adormecida há muito, deixando para trás fórmulas e mecânicas a que nos habituou, para se concentrar apenas numa coisa: intensidade. Em vez do enorme mundo de Elden Ring, da precisão de Sekiro e dos castigos a que sujeitava os jogadores nos Souls, o estúdio apresenta em Armored Core VI: Fires of Rubicon uma experiência focada, de missões curtas e ritmadas, indulgente com os erros e com um arsenal capaz de fazer frente a qualquer exército.
Armored Core VI não perde um segundo para nos agarrar e colocar no cockpit de uma monstruosidade metálica, armada da cabeça aos pés, com metralhadoras, canhões, espadas laser, mísseis teleguiados – todo um arsenal que podemos personalizar a nosso belo prazer. Não é preciso muito para me sentir razoavelmente confortável com as mecânicas e os controlos de Armored Core, e assim que começo a sentir-me confiante, é-me servida uma dose de humildade pelo primeiro boss do jogo – um helicóptero de combate gigante.
Bem à moda do FromSoftware, o conhecimento nasce do fracasso e não podia faltar um boss para nos dar umas lições. Felizmente, é fácil aprender em Armored Core VI. Os comandos são intuitivos e graças a um generoso sistema de checkpoints, nunca preciso de repetir muito dos níveis quando sou derrotado. No que toca ao controlo do nosso robô, o FromSoftware fez um trabalho notável, ao mesmo tempo que me sentia genuinamente ao controlo de uma máquina de destruição maciça, bem pesada por sinal, nem por um único segundo me senti desconfortável com a sua agilidade, nem tão pouco senti que fosse uma bisarma metálica desajeitada. O único problema aqui é a câmara, que volta e meia me pregou umas partidas em situações mais apertadas, ou quando lutava de costas para edifícios ou outras estruturas.
Intensidade máxima
Seja a destruir sistemas de artilharia, tanques, ou helicópteros, o combate de Armored Core é puramente intoxicante. Preso a um ritmo alucinante, é difícil colocar o pé no travão quando temos alvos à nossa frente, prontos para serem abatidos. As coisa mudam de figura em alguns duelos contra outros Armored Cores (o nome dado aos mechas mais poderosos) e aos bosses, que em muitos casos fazem parecer o nosso robô minúsculo. Aqui é preciso entrar numa dança, aprender os padrões de ataque dos adversários, saber esperar pelo momento para atacar, e quando tudo isto falha, ter a humildade para voltar ao hangar e preparar uma nova estratégia, porque às vezes, o segredo para o sucesso passa por trazer armas maiores.
Fora das missões, este é outro dos elementos centrais de Armored Core VI: a personalização do nosso mech. Os elementos de personalização são excelentes e oferecem escolhas para todos os estilos de gameplay, ainda que possam intimidar ao início, pois não é fácil perceber o que representa cada atributo.
Antes de cada missão, podemos equipar o nosso Mech com quatro armas: duas nos braços e outras duas nos ombros. Até aqui tudo muito simples, pelo menos até olhar para a variedade de armas que vou desbloqueando ao longo das missões. Depois, as coisas tornam-se ainda mais complexas quando consideramos as restantes peças que constituem um Mech. Braços, cabeça, peito, pernas – que podem ser duplas, com juntas invertidas, ou até com lagartas – boosters, ou PC de bordo: todas estas peças têm atributos diferentes, que no seu todo, criam um puzzle para ser resolvido.
Algumas armas exigem mais energia, logo é necessário um gerador mais potente. Outras são mais pesadas, e por isso, é necessário usar braços que consigam suportar o peso. Por sua vez, pernas mais pesadas e robustas aguentam uma maior carga, mas em contrapartida, ficamos com um mech mais lento. A profundidade deste sistema permite-nos criar builds incrivelmente variadas e ao nosso gosto, que podem fazer a diferença nas missões. Convém é estar preparado para perder algum tempo no hangar para afinar tudo ao pormenor – e ainda nem falei da possibilidade de configurar as cores do Mech! Felizmente, é possível guardar várias configurações e trocar muito facilmente antes das missões.
Coral para que quero?
A campanha de Armored Core VI é dividida em missões, que nos levam para várias zonas, com objetivos distintos, mas que envolvem quase sempre a destruição de alvos. São curtas, intensas, e facilmente repetíveis para fazer uns trocos extra e comprar equipamento novo. Somos colocados na linha da frente contra outras corporações sedentas de lucros, mercenários e resistentes, mas a verdade é que não é fácil acompanhar o que se está a passar.
O enredo do jogo é contado através de pequenas apresentações e slides antes das missões e através das conversas de rádio durante as mesmas. Isto levanta dois problemas: o primeiro é que os slides não são particularmente interessantes e o segundo é que é muito, mas mesmo muito fácil perder o fio à meada quando estamos mergulhados nos combates. É difícil perceber o que alguém está a dizer quando estamos ao controlo de um gigante metálico de várias toneladas, com explosões à nossa volta e dezenas de inimigos mortinhos para nos abater.
Com uma duração de cerca de 15 horas, a campanha de Armored Core VI é curta, mas dá-nos razões para a repetir com um New Game+. Podemos explorar ramos alternativos para ficar a conhecer outros finais, mas vou ser franco, quase todos vamos repetir a campanha só para termos uma desculpa para mais combates de mechs gigantes.