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Astro do Rolling Stones passou dia em uma prisão de Niterói

Havia dezenas de pessoas diante do hotel Copacabana Palace esperando para ver Mick Jagger, mesmo que de passagem, mas o vocalista dos Rolling Stones estava a quilômetros dali, no Presídio Vieira Ferreira Neto, em Niterói. Durante cerca de 12 horas daquele sábado, 1° de dezembro de 1984, o astro conheceu um pouco da realidade dos detentos sob custódia do Estado na antiga penitenciária localizada na Alameda São Boa Ventura, onde ele gravou um trecho do filme “Running Out of Luck”, que reunia clipes de faixas de seu primeiro disco solo, “She’s the Boss”.

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“O pessoal lá fora doido pra ver o cara, e ele vem aqui pra gente de bandeija”, disse um dos detentos. Diferentemente de vários de seus colegas, o preso sabia quem era o cantor inglês de então 41 anos de idade. A maioria dos internos, contudo, não o reconheceu. “Não sei quem é, já puxo uma pena grande”, justificou um homem ao confessar ignorância. “Esse é aquele que se separou do Lennon e do McCartney”, chutou outro. Era mais fácil encontrar, entre os presos, quem conhecesse o ator Paulo Cesar Pereio, que fez uma participação no longa de baixo orçamento dirigido por Julien Temple.

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O cantor dos Stones, que completa 80 anos de idade nesta quarta-feira, circulava tranquilamente pelas galerias e na parte externa do presídio, mas, à medida que sua identidade foi transmitida de boca em boca, ele começou a ser parado por grupos pedindo autógrafos. Distribuiu dezenas. Um interno, que fazia cartões de Natal para vender às visitas, entregou um maço deles para Mick assinar. O britânico atendeu ao pedido com um sorriso. Quando se afastou, o preso, em êxtase, contou aos colegas que venderia os cartões por um preço bem acima do normal. Mas recebeu um banho de água fria.

“Você está preso aqui por estelionato, rapaz. Acha que alguém vai acreditar que isso aí é autógrafo do Mick Jagger? Vão pensar que foi você que fez”, afirmou outro detento.

Mick Jagger dando autógrafos para detentos do presídio Vieira Ferreira Neto — Foto: Maurício Menezes/Agência O GLOBO

Aquela não era a primeira vez de Jagger no Rio. O roqueiro tinha visitado a cidade, sempre a passeio, em pelo menos outras três ocasiões. Em janeiro de 1968, ele e sua então namorada, Marianne Faithfull, passaram uns dias no Rio e foram para Salvador, onde o músico teve a inspiração para compor o hit “Sympathy for the Devil”. Na virada de 1968 para 1969, ele voltou à Cidade Maravilhosa com o colega de banda Keith Richards. Mick retornou ainda na virada de 1975 para 1976, quando ficou hospedado na casa da atriz Florinda Bulkan, na Joatinga, com sua então mulher, Bianca Jagger, e a filha Jade.

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Em quase todas as ocasiões, Mick circulou um bocado pela noite carioca, marcando presença em jantares da alta sociedade e visitando restaurantes e boates famosas da época. Toda vez que pisava no Rio, ele garantia que os Rolling Stones fariam shows no Brasil “em breve”, sem nunca, porém, dar certeza. A promessa apenas foi cumprida em janeiro de 1995, quando a banda britânica levou aos estádios do Maracanã, no Rio, e do Pacaembu, em São Paulo, a turnê do de seu vigésimo (!!!) disco de estúdio, “Voodoo Lounge”, com abertura de Barão Vermelho, Rita Lee e Spin Doctors.

Em 1984, Mick estava no Rio a trabalho. Chegou no dia 26 de novembro e gravou em diferentes locais, com artistas como Norma Bengell, Grande Otelo e Tony Tornado. Na gafieira Elite, na Praça Tiradentes, foram rodadas cenas do clipe de “Just Another Night”. No Estádio do Fluminense, nas Laranjeiras, o salão nobre foi transformado em cassino, com roletas, mesas de carteado e máquinas caça-níqueis. Dias depois, o roqueiro foi ao Maracanã torcer pelo tricolor na final do Campeonato Estadual, contra o Flamengo. Muito antes de ganhar sua fama de pé-frio, ele viu o “seu time” conquistar o título.

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No presídio em Niterói, os detentos ficaram eufóricos durante uma cena com Pereio e a atriz Rae Dawn Chang. A americana vivia a namorada do roqueiro interpretado por Mick, que estava preso. Para ajudar a libertar o amante, a moça devia seduzir e drogar o diretor da penitenciária, encarnado pelo brasileiro. Em um gabinete, Chang chegava a tirar a roupa para se lançar sobre Pereio. A sequência foi repetida várias vezes, enquanto os internos se revezavam assistindo pela janela da porta. Mas um deles ficou na sala o tempo todo, abanando um fogareiro para fazer fumaça. Quando saiu, o diretor o chamou.

“Achei que ele ia falar do meu lugar privilegiado, mas não foi nada disso”, esclareceu o presidiário. “O diretor disse que eu vou sair da cadeia nas próximas semanas. Estou tão nervoso que já até esqueci da cena. Não posso ir embora. Não tenho família, não tenho nem onde dormir”.

Mick Jagger assistindo a um Fla x Flu no Maracanã em 1984 — Foto: Cezar Loureiro/Agência O GLOBO

Mick Jagger chegando na Gafieira Elite, no Centro do Rio, para gravar clipe em 1984 — Foto: Alberto Jacob/Agência O GLOBO

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