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Conselho de Ética da Câmara arquiva pedido de cassação de Janones por ‘rachadinha’ | Política
O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira, por 12 votos a 5, o parecer do deputado Guilherme Boulos (Psol-SP) para arquivar o pedido de cassação contra o deputado André Janones (Avante-MG) por supostamente receber parte dos salários de ex-assessores — esquema popularmente conhecido como “rachadinha”. A sessão foi marcada por bate-boca e confusão do início ao fim.
A sessão acabou numa grande confusão entre os políticos, com empurrões, xingamentos, acusações mútuas sobre casos de corrupção e assassinatos, brigas e perseguição pelos corredores da Câmara. Imagens foram amplamente divulgadas nas redes sociais dos próprios deputados de direita, num movimento para aumentar o engajamento dos eleitores.
Vídeo: Deputados trocam acusações e tapas no Conselho de Ética
Vídeo: Deputados trocam acusações e tapas em sessão para votar cassação de André Janones
Os parlamentares de oposição ao governo Lula (PT) tentaram utilizar a sessão para aumentar o desgaste de Janones, um dos principais políticos de esquerda nas redes sociais, e de Boulos, que é pré-candidato à Prefeitura de São Paulo e defendeu o arquivamento da representação. Potencial adversário dele na eleição, o “coach” e influenciador digital Pablo Marçal (PRTB) acompanhou presencialmente a sessão, fez transmissões na internet e foi saudado pelos bolsonaristas.
O PL pediu a cassação do mandato de Janones por suposta cobrança de que os servidores de seu gabinete devolvessem parte dos salários para ajudarem-no a recompor o patrimônio que foi “dilapidado” na eleição e para fazer “caixa” para futuras campanhas eleitorais. A gravação da reunião foi divulgada pelo portal “Metrópoles” em novembro.
Janones rebateu que o áudio foi adulterado e que não cobrou a devolução dos salários dos assessores, mas que fez uma reunião com seu grupo político para discutir estratégias de como se fortalecerem nas eleições e que a ideia do caixa com parte dos salários não foi posta em prática. “Não tenho casa de R$ 14 milhões, não tenho loja de chocolate. Meu patrimônio reduziu desde 2022 em mais de 80%”, disse o deputado, citando investimentos da família Bolsonaro (PL).
O argumento utilizado por Boulos para absolver o aliado foi de que a suposta rachadinha, se existiu, teria ocorrido na legislatura anterior e que já era conhecida do eleitor antes da eleição de 2022. O precedente nesses casos, disse o deputado do Psol, é que o Conselho de Ética da Câmara só analise infrações cometidas no curso do atual mandato. “Se a Justiça concluir que no caso do deputado André Janones houve crime, que ele seja punido. Agora, não é este o debate que está posto aqui”, afirmou Boulos.
O voto vencedor foi contestado pelos bolsonaristas. O deputado cabo Gilberto Silva (PL-PB) apresentou voto em separado para defender que o áudio que comprovaria o esquema foi divulgado apenas no atual mandato. “Para ficar claro, quem está denunciando o deputado André Janones é o próprio assessor dele, uma pessoa de confiança dele.”
O argumento utilizado para livrar Janones da investigação na Câmara sobre o suposto crime teve amplo apoio do governo e dos deputados de esquerda e do Centrão. Mas até um deputado do PL, Junior Lourenço (MA), votou pelo arquivamento — ele é da ala governista do partido. Os votos para rejeitar o parecer e levar adiante o processo foram de quatro deputados do PL e de Bruno Ganem (Pode-SP). O engavetamento ocorreu ainda na fase de avaliação preliminar, sobre a admissibilidade da representação, antes de ouvidas testemunhas.
Após a votação, o conselho não analisou os outros dois processos em pauta e a tumultuada sessão foi encerrada. Mas novos bate-bocas ocorreram e precisaram ser contidos por integrantes da polícia legislativa. O deputado Éder Mauro (PSD-PA), ex-delegado de polícia que se vangloria de já ter matado pessoas, foi para cima de Janones e ficou, dedo em riste, trocando acusações com ele. Mauro chegou a dar tapas na própria cara para sugerir que Janones o acertasse, ao que o deputado respondeu que não cairia nas provocações.
Os deputados Zé Trovão (PL-SC) e Nikolas Ferreira (PL-MG) chamaram Janones para “brigar lá fora” e o deputado respondeu com provocações para que se enfrentassem fora do prédio da Câmara — o que, segundo outros parlamentares ouvidos, não evitaria novos processos no conselho de ética caso ocorresse uma briga de verdade. Janones deixou a comissão com o paletó agarrado pelo deputado Gustavo Gayer (PL-GO). O goiano o chamava de “corrupto”, enquanto ele rebatia com gritos de “assassino”.