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Falsa guru condenada à prisão por tráfico humano ficou famosa com memes e abriu seita; saiba quem é

Condenada a 8 anos de prisão por submeter uma mulher a tráfico humano e condições análogas à escravidão, Katiuscia Torres Soares, de 34 anos, é uma falsa guru espiritual que se apresenta como Kat Torres. A mulher, que já trabalhou como atriz e modelo no exterior, ganhou milhões de seguidores com memes na internet e chegou a ter uma vida financeiramente estável em Los Angeles — antes de resolver liderar uma suposta seita religiosa.

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Nascida em 1992 em Belém, Kat compartilhou com os seguidores a origem simples da sua família no Pará. Ela também usou as redes sociais para questionar a necessidade de isolamento social durante a pandemia de Covid-19. Em 2017, ela lançou o livro de autoajuda “A Voz – Uma História de Superação, Crescimento Espiritual e Felicidade” e passou a oferecer “tratamentos espirituais” que chegavam a custar R$ 700.

Segundo a BBC, ao condenar Kat, o juiz avaliou que a influenciadora atraiu a jovem Desirrê Freitas, de 28 anos, para os Estados Unidos com o objetivo de exploração sexual. A falsa guru é alvo ainda de uma outra investigação, baseada em denúncias de outras mulheres.

Kat foi presa em outubro de 2023, ao desembarcar de um avião vindo dos EUA com outras dezenas de brasileiros a bordo, todos deportados por estarem irregulares no país norte-americano. Ela teve sua prisão convertida em preventiva em solo brasileiro e foi transferida para um presídio feminino em Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Na denúncia apresentada à Justiça Federal, que conta com um rol de sete testemunhas, o MPF destaca Kat Torres cooptou Desirrê Freitas e a expos a uma rotina degradante desde pelo menos o início de abril de 2022 até o dia 2 de novembro do mesmo ano.

Segundo os procuradores, Katiuscia aliciou, alojou e acolheu a suposta vítima, mediante fraude, com a finalidade de submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo; submetê-la a qualquer tipo de servidão e de exploração sexual, se prevalecendo de relações de coabitação e hospitalidade. “Katiuscia reduziu (a vítima) à condição análoga a de escravo, submetendo-a à jornada exaustiva e sujeitando-a a condições degradantes de trabalho”, destacaram os procuradores Orlando Monteiro Espíndola da Cunha e Ana Cristina Bandeira Lins.

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A garota era obrigada, segundo a denúncia, a dançar num clube de striptease, em jornadas exaustivas de mais de 13 horas, sem descanso semanal. Sua foto também foi anunciada num site de prostituição de Austin e San Antonio, no Texas, e o perfil oferecia sexo, fetiches e massagem. Tudo feito em nome da suposta “voz”, que guiaria a seita de Katiuscia. Todo o lucro seria entregue à suposta líder religiosa.

Dada como desaparecida por parentes e amigos

Desirrê contou em entrevista ao Globo que, durante os últimos meses em que foi dada como desaparecida por parentes e amigos, foi obrigada a mentir e afastá-los: uma farsa, de acordo com ela, arquitetada pela antiga mentora, que definia a si própria por trás das câmeras e das redes sociais como uma pessoa fria e calculista. Também pede desculpas publicamente por falsas acusações feitas na internet, sobretudo à top model Yasmin Brunet, que teriam sido igualmente orquestradas por Torres.

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Mas além desse caso, surgiram relatos de vários outros. Sempre envolvendo falsas promessas de dinheiro, sucesso amoroso e financeiro, e abordagens a seguidoras jovens, bonitas e em momentos de fragilidade emocional. Tudo em nome da crença numa falsa divindade, chamada de “A Voz” – título de seu livro –, e por vezes com o uso do chá alucinante de Ayahuasca.

As supostas vítimas prestaram depoimento ao Ministério Público de São Paulo no ano passado e, em seguida, esses relatos foram anexados também ao inquérito tocado hoje pelo Ministério Público Federal, depois que o caso passou para a esfera federal, na Justiça Federal do RJ, estado de origem da ré. O conteúdo das queixas é sensível. Desde então, no entanto, a procuradoria ainda não fez nova denúncia envolvendo essas outras histórias.

Serviços domésticos na casa de Kat Torres

Uma das vítimas conta que estava passando por dificuldades nos EUA, vivendo nas ruas, quando foi abordada por Kat Torres. Através das falsas promessas e da crença na “Voz”, ela disse que acabou cooptada pela coach a ter uma experiência num stripclub num dia, que a recompensaria. Exposta e desconfortável com aquela situação, ela não conseguiu dançar ou ter relações com clientes do local e diz que os donos da boate, por pena, teriam dado 100 dólares e a dispensado em seguido. A guru teria se irritado e achado a quantia baixa. Ela conta que, então, passou a ser encarregada pelos serviços domésticos na casa de Torres, em troca das falsas promessas e de um teto para morar.

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Esta vítima havia recém completado 18 anos quando diz ter sido abordada por Kat Torres. Ela apresentou mensagens onde a falsa guru fazia promessas e convidava a seguidora para ir do Brasil aos EUA para trabalhar como modelo e, explicitamente, como sugar dady.

Jovem e ingênua – ela diz que ainda era virgem na ocasião – achou que o serviço consistia apenas em acompanhar homens mais velhos em jantares e que não envolveria sexo. Fiel seguidora da falsa religião criada por Kat naquele momento, e acreditando em seus “poderes de clarividência”, ela chegou a topar, mas acabou desistindo quando foi interpelada por um grupo de mulheres que já rastreavam as investidas da “bruxa”.

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