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Inundações no Rio Grande do Sul: Estado deve ter mais chuvas e vento esta semana; mortos chegam a 90
As fortes chuvas que afetam o Rio Grande do Sul desde a semana passada já provocaram 90 mortes e afetaram 388 dos 497 municípios gaúchos.
O governo do Rio Grande do Sul ainda contabiliza que 1,367 milhão de pessoas foram afetadas pelo evento climático extremo. Há 361 feridos e 132 desaparecidos.
O Lago Guaíba, que bateu o recorde histórico, tinha na manhã de terça-feira (7/5) 5,27 metros — quatro metros acima do volume considerado normal.
Na segunda-feira (6/5), o Climatempo emitiu um alerta sobre um ciclone extratropical que se forma próximo da costa da Argentina, na altura da província de Buenos Aires.
Este sistema não vai passar sobre o Rio Grande do Sul, mas a presença dele vai favorecer o aumento da intensidade dos ventos pela Região Sul do Brasil.
Além disso, segundo os meteorologistas, ele dá origem a uma nova frente fria que vai reforçar as instabilidades outra vez pelo Rio Grande do Sul, provocando o retorno da chuva no centro-norte do Estado.
Condições de temporais e chuva volumosa são esperadas, em especial, no centro-sul, oeste e noroeste gaúcho.
Embora o ciclone esteja no oceano, os ventos previstos associados a ele, podem atingir valores de 60 a 80 km/h — mesmo que não esteja chovendo. Nas regiões com risco de temporais, os ventos podem atingir valores próximos a 90 km/h, segundo o Climatempo.
No domingo (5/5), o governo federal já havia alertado que a frente fria poderia se tornar uma preocupação.
Na quarta-feira, a temperatura deve baixar para até 10 °C em algumas áreas do Estado, segundo o Comando Militar do Sul.
O comando, que participa da operação de auxílio às vítimas, afirmou que a ideia é acelerar os trabalhos até esta terça (7), já que a frente fria vai piorar as condições de evacuação, além de aumentar o risco de hipotermia em pessoas que estejam aguardando o resgate ao relento ou sob a chuva.
Os meteorologistas do Climatempo afirmam ainda que a situação de nível de água dos rios do Estado permanece delicada devido à enchente dos últimos dias.
E, com o aumento das rajadas, pode haver novamente o transporte de água para muitas regiões do Estado.
Aeroporto fechado por tempo indeterminado
Autoridades estão trabalhando para reestabelecer os serviços e rotas de transporte.
- O aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, está fechado por tempo indeterminado. A Fraport, empresa responsável pela administração, aconselha os passageiros a procurarem suas companhias aéreas para remarcação ou reembolso de passagens com destino ou origem em Porto Alegre.
- A Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) informou que suas associadas Gol, Latam e Voepass cancelaram todos os voos de/para Porto Alegre até sexta-feira (10). Além disso, a associação anunciou que essas companhias estão fazendo voos com doações para o Estado.
- Os aeroportos das cidades de Passo Fundo, Caxias do Sul, Pelotas e Santo Ângelo estão operando, mas podem “ser impactados pelas condições meteorológicas”, segundo a Abear.
- Já a Empresa Gaúcha de Rodovias divulgou que a maioria dos trechos de estradas que estavam bloqueados por conta dos deslizamentos até agora já foi liberada.
- O governo gaúcho anunciou o investimento de R$ 117,7 milhões para a reconstrução de estradas.
- Há falta de energia elétrica em 451 mil pontos do Estado, segundo um balanço divulgado na manhã de terça (7/5). Há cerca de 649 mil pessoas sem acesso à água. Operadoras de telefonia e internet também estão sem serviço em dezenas de municípios.
- O governo calcula que 790 escolas foram afetadas — ou seja, estão danificadas, estão servindo de abrigo ou apresentam problemas de transporte ou acesso. Essas unidades de ensino estão espalhadas por 216 cidades do Estado. As aulas devem voltar a partir de terça (7/5) apenas nas regiões menos afetadas.
- Não há previsão de retorno das aulas em Porto Alegre e nas coordenadorias que abrangem São Leopoldo, Estrela, Guaíba, Cachoeira do Sul, Canoas e Gravataí.
Barragens sob monitoramento
Um balanço divulgado pelo governo do Rio Grande do Sul na tarde de domingo (5/5) informou que há seis barragens de hidrelétricas em situação de emergência, com risco iminente de rompimento. Segundo o governo gaúcho, isso aponta que devem ser tomadas “providências para preservar vidas”.
Entre essas medidas, está a retirada de famílias das áreas que podem ser atingidas caso ocorra um rompimento. Não foi informado o número de famílias que estão nessa situação.
Esse levantamento é feito pelo governo por meio da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Operador Nacional do Sistema (ONS).
Uma das seis barragens em situação de emergência, localizada entre os municípios de Bento Gonçalves e Cotiporã, já registrou um rompimento parcial há três dias.
De acordo com o governo, ainda há outras cinco barragens em estado de alerta. Isso significa que elas apresentam “anomalias que representam risco à segurança” e exigem manutenções para que a situação não se agrave.
O grupo responsável por esse balanço informou ainda que há sete barragens em estado de atenção. São estruturas que possuem anomalias, mas que não comprometem a segurança a curto prazo. Elas necessitam de monitoramento, controle ou algum reparo.
Planos de reconstrução
Em entrevista a jornalistas no sábado (4/5), o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), afirmou que a grave situação causada pelas enchentes no Estado vai exigir a adoção de um “Plano Marshall”.
O Plano Marshall foi a estratégia americana de aplicar bilhões de dólares na reconstrução da Europa aliada após a Segunda Guerra Mundial.
“Vamos precisar de medidas absolutamente excepcionais. O Rio Grande do Sul vai precisar de um Plano Marshall, de medidas absolutamente extraordinárias. Quem já foi vítima das tragédias não pode ser vítima de desassistência e da burocracia”, disse o governador à imprensa.
Ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no domingo (5/5), Leite afirmou que esse plano terá de envolver também estratégias de resiliência climática, que permitam ao Estado resistir aos extremos climáticos globais.
Na segunda (6/5), o governador atualizou a avaliação durante um encontro com o Conselho do Estado. “Estamos em um momento de administrar o caos, pois a partir de agora teremos que lidar com muitas dimensões do impacto das enchentes pelo Estado. Além de continuar com os resgates, teremos os desdobramentos nas várias frentes desta que é a maior catástrofe que o Rio Grande do Sul já enfrentou”, disse ele.
No domingo (5/5), Lula visitou o Estado para discutir os próximos passos de reação da tragédia.
“É preciso que a gente pare de correr atrás da desgraça (…) e aja com antecedência” na prevenção de tragédias, disse Lula.
O presidente afirmou que o governo federal ajudará na recuperação da infraestrutura estadual — e que a burocracia estatal não atrapalhará nos esforços de reconstrução.
“O Brasil deve muito ao Rio Grande do Sul”, agregou Lula, mencionando a pujança agrícola do Estado.
“Se ele sempre ajudou o Brasil, agora está na hora de o Brasil ajudar o Rio Grande do Sul.”
O ministro dos Transportes, Renan Filho, afirmou que serão liberados R$ 1 bilhão a mais para recuperação de rodovias federais por causa da chuva.
O governo também liberou mais de R$ 580 milhões em emendas parlamentares para o Estado, a maior parte para a área de saúde.
O que explica as chuvas no RS?
- Presença de um cavado (corrente intensa de vento) em atuação na região proporcionando a formação de tempo bastante instável;
- Presença do corredor de umidade vindo da Amazônia, que potencializou a intensidade de precipitação;
- Presença de uma onda de calor na região central do país
“Essa massa de ar quente sobre a área central do país bloqueou a frente fria que está na região Sul, impedindo-a de avançar e se espalhar para outras localidades. A junção desses fatores faz com que essa instabilidade fique sobre o Estado, causando chuvas intensas e continuas”, explica Dayse Moraes, meteorologista do Inmet.
Aliado a isso, o período entre o final de abril e o início de maio de 2024 ainda tem influência do fenômeno El Niño, que é responsável por aquecer as águas do oceano Pacífico, contribuindo para que áreas de instabilidade fiquem sobre o Estado.
Essa combinação de diversos fatores de uma única vez é considerada rara pelos especialistas.
As chuvas catastróficas do Sul têm relação direta com a onda de calor registrada na região Centro-Oeste e Sudeste, onde as temperaturas estão cerca de 5 °C acima da média neste outono.
“Com a intensificação das mudanças climáticas globais, os eventos climáticos extremos serão mais frequentes e intercorrentes”, acrescenta Rafael de Ávila Rodrigues, professor e climatologista do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Catalão (UFCAT).