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Por que o Athletic Bilbao contrata apenas jogadores de origem Basca?
Athletic Bilbao somente utiliza jogadores nascidos ou formados no País Basco e se mantém como um dos mais relevantes da Espanha
O fã de futebol já ouviu falar alguma vez do Athletic Bilbao, um dos maiores clubes da Espanha. Mas o que muitos não sabem é que o time possui uma filosofia complicada de se colocar em prática atualmente, principalmente com a globalização do esporte: não contratar estrangeiros. A política de valorização dos jogadores da ‘Euskal Herria’, o País Basco, rendeu até hoje muitas glórias para a equipe, além de nunca ter sido rebaixado, junto de Barcelona e Real Madrid.
Todos os jogadores do atual elenco do clube nasceram ou foram formados nas categorias inferiores de agremiações Bascas. Esse é o princípio determinante do clube, em que a propriedade é a própria base, e algo que, segundo o próprio time, o diferencia de “qualquer outra filosofia ou maneira de entender o futebol no mundo”.
Do grupo atual, 26 jogadores são crias da base de clubes da comunidade autônoma, sendo que 21 com formação no próprio Bilbao. O goleiro Unia Simón, por exemplo, chegou por lá aos 14 anos. Já o atacante Nico Williams, aos 10.
“Mantemos a essência dos fundadores. São 125 anos competindo e sendo fiéis à nossa identidade. É uma decisão natural, não há nada escrito no estatuto, não é uma regra. Somos pacientes, mas é importante ganhar. O modelo só tem êxito e é crível se você competir e ganhar”, afirmou Jon Berasategi, diretor-geral do Athletic Bilbao.
Identidade e tradição
O Athletic Club, como é chamado na Espanha, foi fundado no ano de 1898, por britânicos e nativos da cidade de Bilbao. Na primeira década, franceses e ingleses ocupavam o elenco. A regra não escrita de contar apenas com atletas locais começou apenas em 1911, depois da popularização do futebol na região e a vontade da diretoria de ter representantes bascos. A filosofia ganhou outro peso durante a ditadura do general Francisco Franco (entre os anos de 1939 e 1975), e a equipe virou símbolo do nacionalismo basco.
NOUVEAU : Athletic Bilbao 1898-2020: Un club identitaire basque à l’heure du football hypercapitaliste et mondialisé
par Antonio Camacho aux Editions Sydney Laurenthttps://t.co/bJbp1DFz6wpic.twitter.com/LdkXVOXzpd
— Livres de Foot (@FootLivres) June 15, 2020
O País Basco fica entre o norte da Espanha e o sul da França, conta com um pouco mais de dois milhões de habitantes e tem um povo com mais de quatro mil anos de história. “Considero que é uma filosofia única em nosso tempo, e esse feito deu ao Athletic uma identidade social e futebolística. Além disso, gerou simpatizantes em todo o mundo”, afirmou Ángel Iturriaga, professor de História que publicou o livro “Dicionário dos jogadores do Athletic Club”, em 2017.
Foram pouquíssimos jogadores não espanhóis de nascimento que vestiram a camisa do clube: menos de 10. O único brasileiro a pisar por lá foi o goleiro Vicente Biurrun, que nasceu em São Paulo e se mudou para o País Basco quando tinha quatro anos. O arqueiro esteve por lá entre os anos de 1986 e 1990.
Nascido em São Paulo há exatos 60 anos, o goleiro Vicente Biurrun era filho de espanhóis e fez carreira na terra dos pais.
Com a Real Sociedad, foi campeão espanhol em 81-82 e jogou ainda no Espanyol, Athletic Bilbao e Osasuña. pic.twitter.com/ZJOw6Rl1TC
— Protofutebol (@protofutebol) September 1, 2019
Base: CT invejável e rede de 175 times
Para ter a garantia de um bom ‘material humano’ para o elenco profissional, o Bilbao tem um investimento atualmente de € 10 milhões (cerca de R$ 55,7 milhões) por ano nas categorias de base. Nos últimos 10 anos, foram mais de € 30 milhões. Elas estão localizadas na cidade de Lezama, que nomeia o Centro de Treinamento, a cerca de 15 quilômetros de Bilbao. As instalações foram criadas em 1971 e hoje recebem as equipes principais masculina e feminina, além de outros 17 clubes inferiores, até o sub-11.
“Tivemos algumas saídas recentes que renderam dinheiro importante, como Javi Martínez, Ander Herrera, Eric Laporte, Kepa, e a decisão estratégica do clube foi reinvestir naquilo que gera receita para o Athletic, que é a base. Já tivemos momentos complicados, mas nem aí houve debate sobre mudar a filosofia”, comentou Berasategi.
O complexo esportivo tem área de 13 hectares, com quatro campos de grama, além de um estádio para 3200 pessoas, quatro de grama artificial, outro coberto, salas de musculação, centro médico, vestiários e um espaço específico para goleiros.
A residência para os menores de idade, com 30 quartos duplos, foi inaugurada em 2021. O clube tem profissionais dedicados à formação dos atletas e à educação em geral. Além disso, o time tem convênio com 175 clubes espalhados pelo País Basco, que servem de centros de desenvolvimento e fornecedor de talentos.
E isso acaba refletindo dentro de campo: entre todos os clubes das cinco principais ligas europeias, o Athletic Bilbao é aquele que os jogadores formados na base têm o maior tempo em campo, sendo 55% dos minutos no Campeonato Espanhol da atual temporada, de acordo com dados do CIES.
Escudo e suas referências
O símbolo que estampa o peito das camisas do time faz referência a significativos ícones locais: a Árvore de Guernica, que sobreviveu aos bombardeios alemães e italianos na cidade em meio à Guerra Civil Espanhola; a Igreja de Santo Antão; e a Ponte de mesmo nome, atravessada pelo Rio Nervión, conhecido como estuário Bilbao em seu trecho final.
Filosofia que traz conquistas
Em todos os seus muitos anos de história, o Athletic Bilbao é uma das referências na Espanha. Até o momento, foram 8 títulos de Campeonato Espanhol (1929/30, 1930/31, 1933/34, 1935/36, 1942/43, 1955/56, 1982/83 e 1983/84), 24 da Copa do Rei (1903, 1904, 1910, 1911, 1914, 1915, 1916, 1921, 1923, 1930, 1931, 1932, 1933, 1942/43, 1943/44, 1944/45, 1949/50, 1954/55, 1955/56, 1957/58, 1968/69, 1972/73, 1983/84 e 2023/24) e 3 Supercopas da Espanha (1984, 2015 e 2020/21).