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Série sobre Chitãozinho e Xororó é drama feito para emocionar
“Os Dois Filhos de Francisco”, independente de ser ou não um bom filme, foi um grande marco no cinema brasileiro. A versão romantizada da vida da dupla Zezé di Camargo & Luciano, dirigida pelo saudoso Breno Silveira, se tornou parte da cultura nacional da mesma forma que as canções da dupla – além disso, os filhos de qualquer pessoa chamada Francisco logo ganharam a alcunha de “filhos de Francisco”. Assim, até surpreende que tenha demorado tanto para que Chitãozinho & Xororó, uma das duplas mais populares do Brasil, responsáveis pela popularização do sertanejo nos grandes centros, tenha sua história contada.
“As Aventuras de José & Durval”, série lançada pelo Globoplay e que terá o primeiro episódio exibido nesta segunda (21) em “Tela Quente”, após a estreia de “Resnga Hits”, faz a interessante escolha de transformar a história da dupla em série. Em episódios (serão oito), o diretor Hugo Prata pode ter calma para mostrar o texto de Rafael Lessa, Duda de Almeida e Dan Rossetto. Nos três episódios já disponíveis, por exemplo, os irmãos Rodrigo e Felipe Simas, que vivem os protagonistas, nem sequer aparecem.
A série dá a devida importância a Mario (Marco Ricca) e Araci (Andreia Horta), pais dos irmãos, vivendo na zona rural da já pequena Rondon, no Paraná. Quando a série tem início, o casal vive o luto pela morte da filha caçula, acontecimento que desencadeia uma crise em Araci. Andréia Horta, magistral, entende a bipolaridade de sua personagem, algo à época nada discutido e por muito tempo um tabu na família, em uma atuação complexa e cheia de camadas.
Cansada, sozinha, com Mario sempre na estrada, com três filhos em casa e mais um a caminho, a matriarca vive pelas crianças, mas sobrevive em relação a todo o resto. Já Mario é um ex-cantor que viu sua dupla ir embora para São Paulo, mas ainda faz sucesso nas rodinhas de violão. Por ter vivido essa frustração, não quer esse caminho para José e Durval, mas se rende ao se deparar com o talento dos dois.
“As Aventuras de José & Durval” carrega a mão no drama, pois sabe que é isso que seu público espera. O texto traz uma família brasileira com dificuldades de colocar comida na mesa, como tantas outras, que acreditava que “gente que nem nós não tem essa coisa de sonhar não” (sic), mas que conseguiu superar as adversidades não apenas sociais. Em determinado ponto, os meninos querem usar um violão elétrico, mas a ideia é tratada como absurda por pessoas que os cercam, algo contra as tradições da música caipira.
Essa construção musical é essencial para que o público em casa entenda o diferencial de Chitãozinho & Xororó e o que os tornou especiais. Foram eles quem assimilaram elementos da música pop e do rock à música caipira, diminuindo, assim, as barreiras de aceitação ao sertanejo nos grandes centros. A série deixa claro o encantamento de José e Durval por artistas de outros gêneros, como na cena em que ouvem Raul Seixas pela primeira vez.
Nesta primeira parte de “As Aventuras de José & Durval”, composta pelos três primeiros episódios, as músicas são cantadas pelos atores Pedro Tirolli e Pedro Lucas, que se saem muito bem. Os irmãos Simas, que entram em cena no quarto episódio, não se arriscam tanto – todas as músicas são cantadas por Chitãozinho & Xororó, cujo alcance vocal é de difícil reprodução.
A decisão de fazer uma série ao invés de um filme funciona para um público que já abraçou o formato seriado e distancia a obra das comparações com “Os Dois Filhos de Francisco”. Essa escolha dá mais tempo de desenvolvimento não só para a dupla, mas para seus pais, que se tornam o coração dramático da história. Tecnicamente, a série, com produção da O2 Filmes, é ótima, reproduzindo figurinos e o cenário de pouca esperança do interior do Brasil nos anos 1960, além de criar cenas musicais que fazem as músicas grudar na cabeça do espectador.
“As Aventuras de José & Durval” abusa do melodrama para construir a jornada de seus protagonistas, do Brasil profundo ao estrelato, abrindo portas para diversos outros que vieram depois deles. A série, mesmo sem ser direta, reforça esse pioneirismo e essa superação para reconstruir a vida de dois ícones da música brasileira e levar suas histórias para as telas. Se não fizer tanto barulho no Globoplay, com certeza o fará quando exibida em TV aberta.
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