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Tony Bennett, ícone da voz, morre aos 96 anos – Cultura – CartaCapital

Com uma carreira de mais de 70 anos, Tony Bennett se manteve como um dos últimos ícones vivos que transitava inabalável pelos standards do jazz. Nesta sexta-feira 20, porém, após anos enfrentando as consequências do Alzheimer, sua voz se calou. A informação da sua morte foi confirmada, em Nova York, pela publicitária Sylvia Weiner.

Definido pela imprensa norte-americana como um cantor cujas “interpretações calorosas e enganosamente simples” ajudaram a espalhar o cancioneiro americano pelo mundo, Bennett teve uma carreira não apenas longeva, mas produtiva. O artista participou de mais de 150 gravações.

Dois eventos, temporalmente distantes, mostram como Bennett se manteve na cena. O primeiro remonta a 1962, quando realizou uma icônica apresentação no Carnegie Hall, em Nova York, apresentando a sua versão de “I Left My Heart In San Francisco”. Décadas depois, em 2011, ele gravou, ao lado da cantora Amy Winehouse, uma marcante versão da música “Body and Soul”. Naquela altura, a gravação foi uma das últimas feitas por Winehouse, que faleceu poucos meses depois.

Quando, na última década, se uniu à cantora pop Lady Gaga nos álbuns Cheek to Cheek e Love For Sale, parte importante da crítica musical exaltou a afinidade da dupla e a habilidade em dar nova roupagem a clássicos compostos por Duke Ellington, Cole Porter e tantos outros.

Estima-se que Bennett tenha vendido cerca de 60 milhões de discos. Beneficiado, também, por uma era em que os selos predominavam no mercado da música. Mais de 20 prêmios foram atribuídos ao artista, incluindo dois Grammy – um deles pelo “Love for Sale”, acima mencionado.

Por ter tido uma carreira tão longa, Bennett experimentou mudanças no mundo da música. No início dos anos 1950, o cantor fez as suas primeiras gravações em um cenário no qual o jazz ainda permanecia na prevalência do gosto popular, especialmente nos Estados Unidos. Contemporâneo de figuras fundamentais do estilo cantado, como Ella Fitzgerald, Louis Armstrong e Frank Sinatra, Bennett acendeu em terreno fértil para a canção.

A história do jazz norte-americano é, sobretudo, a história da segregação no país. Nesse sentido, a participação de Bennett com a Count Basie Orchestra, em 1958, foi um marco no anseio artístico para o fim da imposição tácita que definia que músicos brancos e negros não podiam tocar juntos. 

Politicamente, aliás, Bennett participou de marcha pelos direitos civis de Selma a Montgomery, em 1965, e cantou em homenagem a Nelson Mandela, em Londres. Ele se dizia democrata liberal.

Entretanto, assim como outros, Tony Bennett vivenciou o surgimento e a ascensão do rock, que, em relativamente pouco tempo, assumiu o lugar do jazz no primeiro posto da música popular (mais uma vez, é importante ressaltar, em especial nos Estados Unidos). À época, ele tornou pública a sua opinião de que a sua música preferida ficaria, ao fim e ao cabo, destinada apenas a um público nostálgico.

Na sua autobiografia, Bennet explica o que sentia: “Eu queria cantar as grandes canções, canções, que realmente importavam para as pessoas”. O período subsequente aos anos 1970 foi, para Bennett, de dificuldades profissionais e, também, pessoais: ele terminou um casamento e enfrentou problemas com drogas.

Entretanto, o tempo tratou de colocar a sua obra no patamar das mais importantes da história da canção norte-americana. As performances ao lado de Gaga e Winehouse, por exemplo, mostraram a capacidade não apenas de renovação de Bennett, mas de influência do seu estilo sobre duas das artistas mais conhecidas das últimas décadas.

A última apresentação do artista foi, justamente, ao lado de Lady Gaga, em 2021. Ele já enfrentava o Alzheimer, conforme confirmado por sua esposa, Susan Bennett, desde 2016. Na apresentação no Radio City Music Hall, um dos pontos mais lembrados é a homenagem que Bennett faz à jovem cantora e a retribuição desta ao cantor, emocionada.

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